VOCÊ SABIA?

A água é uma substância essencial para que haja vida na Terra. Apesar de abundante em termos de quantidade (ela ocupa 71% da superfície), os debates atuais sobre a preservação do meio ambiente suscitam a questão: a água vai acabar um dia?

Segundo o professor Marcelo Antunes Nolasco, do curso de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), a resposta é negativa. ‘O ciclo hidrológico se renova constantemente’, explica. No entanto, ele ressalva que a disponibilidade de água para o abastecimento humano é cada vez menor. ‘A qualidade de água doce disponível tem se deteriorado gradativamente devido às inúmeras fontes de poluição’, lamenta. Além disso, a produção de alimentos também pode ser comprometida caso medidas para reverter o quadro não sejam tomadas. Investir na rede de tratamento de esgoto, no melhor aproveitamento na agricultura (cerca de 70% da água utilizada no mundo é consumida pelo setor agrícola) e na conscientização dos usuários são iniciativas que podem desagravar a situação.

A dessalinização é uma alternativa tecnológica disponível e utilizada por diversos países que consiste na retirada de sal e outros minerais da água. O processo permite que água do mar seja convertida em água doce. Em Guantánamo (base militar norte-americana em Cuba), por exemplo, há uma usina de dessalinização por destilação que produz 3,4 milhões de barris de água doce por dia, segundo a organização Global Security.

No entanto, não devemos colocar todas as fichas na água salgada, que representa em torno de 97% do total disponível. O custo do processo ainda é alto, um empecilho à ampla utilização da tecnologia. Segundo o professor Marcelo Nolasco, o maior aliado ainda são as políticas ambientais. ‘As medidas mais eficientes para o futuro deverão vir acompanhadas de um bom planejamento de conservação dos mananciais superficiais e subterrâneos associadas às medidas economizadoras junto aos usuários domésticos, industriais e rurais e a educação da população’, explica.

Não. A água poluída apresenta alteração nas características físicas originais, como cheiro, turbidez, cor ou sabor. ‘Dependendo do grau de alteração provocada, pode ocorrer o comprometimento das funções ecológicas e usos mais exigentes daquele recurso’, esclarece o professor Marcelo Antunes Nolasco, do curso de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo (USP). Já a contaminação é caracterizada quando substâncias químicas perigosas ou metais pesados entram em contato com a água, ou ainda quando é detectada a presença de microorganismos patogênicos (vermes, bactérias, protozoários ou vírus). Essa água não é potável e representa riscos à saúde.

Segundo o relatório Sick Water, divulgado pela Organização das Nações Unidas em 2010, a diarreia (causada principalmente pela água suja) leva à morte cerca de 2,2 milhões de pessoas a cada ano. O levantamento ainda diz que mais da metade dos leitos dos hospitais no mundo são ocupados por pessoas com doenças ligadas à água contaminada.

O Brasil concentra cerca de 12% da água existente na superfície da Terra. A maior parte dela fica represada na Amazônia, sem que a população possa utilizá-la como recurso. Mas estimar qual é o país mais rico nesse recurso natural não é tão simples. ‘A riqueza da água é, em geral, avaliada em termos de disponibilidade hídrica por habitante e, portanto, é um valor relativo’, aponta o professor da USP, Marcelo Nolasco. Adotando esse critério, o país mais rico é a Islândia, pois apresenta a maior oferta de água por habitante - 559.211 m³, segundo relatório feito com base nos dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês).

Não há como precisar a quantidade de água que deve ser ingerida diariamente. O professor de Fisiologia Humana da Universidade Federal Fluminense (UFF) Antonio Nóbrega diz que é preciso repor as perdas de líquido por meio do suor, da perspiração (vapor d’água expirado pelas vias aéreas) e da urina. ‘Como não sabemos com exatidão quanto perdemos diariamente, recomenda-se beber cerca de dois litros ou mais todos os dias, e mais ainda quando nos exercitamos’, ensina. A principal variável, acrescenta o professor, é a temperatura e unidade do ar e o tipo de exercício realizado - o que pode nos dar sensação de maior ou menor sede.

Não. Os alimentos também contêm água em sua composição e ajudam a hidratar o corpo. Alguns têm mais, outros menos, é verdade, mas frutas e legumes são as principais fontes, aponta o professor de Fisiologia Humana da Universidade Federal Fluminense (UFF) Antonio Nóbrega. ‘É claro que caldos e sopas também possuem uma grande quantidade de água, que é acrescentada no preparo’, completa. Estima-se que um tomate tenha em torno de 95% do seu peso composto de água. O espinafre e a batata-inglesa também têm alta concentração, com 91% e 80%, respectivamente. Entre as frutas, 93% do melão é água, enquanto na maçã são 85%. Outras frutas possuem índice acima dos 90%, como melancia, morango, limão, mamão e carambola.

A sensação de sede é uma das várias funções controladas pelo hipotálamo, uma região extremamente importante no cérebro. O professor de Fisiologia Humana da Universidade Federal Fluminense (UFF) Antonio Nóbrega explica que, quando o teor de água no sangue baixa (alta osmolaridade), um conjunto de neurônios emite a mensagem e é liberado um hormônio que absorve mais água nos rins e provoca a sede. Essa reação também é estimulada pelo aumento na concentração de sódio. Para Nóbrega, o mecanismo é eficiente para manter a quantidade de água no organismo equilibrada. ‘Mas é bom lembrar que ele só deflagra sede quando já perdemos cerca de 5% de água corporal, e mais ainda quando vamos envelhecendo. O ideal é repor água antes de sentir sede, principalmente no caso dos idosos’, salienta.

A desidratação pode levar à morte muito mais cedo do que a fome. Estima-se que em 72 horas o corpo pode perder até 13 litros de água, o que torna a sede muito mais urgente do que a fome. ‘Possuímos boas reservas de glicogênio, gordura e proteína que podem ser utilizadas como fonte de energia por semanas ou meses’, explica o professor de Fisiologia Humana da Universidade Federal Fluminense (UFF) Antonio Nóbrega. Ele alerta que, no caso da água, a falta de reposição faz com que as células murchem e o fluxo de sangue diminua, ficando mais concentrado e chegando mais lentamente aos órgãos.

Existe uma forma muito rara de reação alérgica à água, chamada de urticária aquagênica. Segundo uma pesquisa realizada por professores do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a doença foi descrita pela primeira vez em 1964 e foram registrados pouquíssimos casos na história. O contato com a água, independente da temperatura, acarreta o aparecimento de lesões na pele, que podem durar de 10 a 50 minutos. O artigo ainda aponta que o distúrbio atinge mais mulheres do que homens e, em geral, inicia-se na puberdade. A ocorrência em crianças é bastante incomum.

Um estudo apresentado na revista científica britânica Nature em janeiro de 2010 descreveu o desenvolvimento da ‘água elástica’. Os cientistas da Universidade de Tóquio criaram a liga a partir da mistura de dois gramas de argila, pequena quantidade de matéria orgânica e água natural (95% do total). O resultado foi uma substância gelatinosa, considerada viável para uso inclusive na área médica, na junção de tecidos humanos. A estimativa é também empregar a descoberta na produção de materiais plásticos ecologicamente limpos. O material teria ainda uma grande resistência mecânica e possuiria a propriedade de se regenerar de possíveis danos.